No céu é sempre domingo. E a gente não tem outra coisa a fazer senão ouvir os chatos. E lá ainda é pior que aqui, pois se trata dos chatos de todas as épocas do mundo”. Esse era Mario Quintana, grande poeta brasileiro, dono de uma ironia refinada, por vezes crítica, mas que ao mesmo tempo sabia ser terno e extremamente simples, aliás, a simplicidade acabou sendo sua principal característica e dessa condição surge o tom de quem fala diretamente aos ouvidos do leitor, afinal: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de estar lendo a gente e não a gente a ele”.
O último poema
Enquanto me davam a extrema-unção, eu estava distraído...
Ah, essa mania incorrigível de estar pensando sempre noutra coisa!
Aliás, tudo é sempre outra coisa- segredo da poesia
- E, enquanto a voz do padre zumbia como um besouro,
Eu pensava era nos meus primeiros sapatos
Que continuavam andando, que continuam andando,
Até hoje. Pelos caminhos deste mundo..