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Foto do escritorRedação

O cronista dos excluídos


Filho de imigrantes italianos, nascido no interior de São Paulo, João Rubinato só se tornou "Adoniran Barbosa" porque achou que esse nome artístico combinaria mais com um sambista. Quando mudou-se para São Paulo, passou por uma variedade enorme de empregos, sem se dar bem em nenhum.

Foi operário de fábrica de tecidos, pintor de parede, encanador, balconista, metalúrgico, garçom... Até que um dia, aprovado em um show de calouros na rádio, acabou abraçando a carreira artística. Tornou-se rádio-ator e, com sua fala engraçada e peculiar, participou de vários programas de sucesso fazendo inúmeros personagens.

Mas, Adoniran era mesmo um sambista e foi na década de 50 que foi reconhecido como tal depois que o conjunto Demônios da Garoa deu voz a vários sambas seus. Sambas esses um tanto quanto "trágicos", que possuíam um toque de ironia e humor negro que todos apreciavam.

O jeito malandro de Adoniran, com sua fala rouca misturando caipira com italiano, casou bem com a cidade de São Paulo e sua diversidade cultural. Dizia que cantar a Guanabara era fácil, difícil era extrair poesia e beleza de São Paulo que, na época, estava em franco processo de modernização, criando um descompasso entre o mundo rural e o urbano.

Considerado um 'cronista dos excluídos', ele cantou o cotidiano da classe trabalhadora em composições que se tornaram o retrato da vida paulistana, como "Saudosa Maloca", "Iracema", “Despejo na Favela”, entre outros. Bairros paulistanos como o Bexiga, Vila Esperança, Brás, Mooca e Jaçanã (esse último, imortalizado no clássico "Trem das Onze" que, aliás, nunca existiu de verdade) tornaram-se presentes na memória de milhares de brasileiros.

A maneira de compor e cantar, sem se preocupar com a grafia correta, tornou-se sua maior característica apesar de lhe render algumas críticas, inclusive de colegas sambistas e compositores consagrados como Vinicius de Moraes.

Adoniran, infelizmente, não teve um destino muito diferente de outros grandes sambistas brasileiros. No final da vida, estava pobre e quase esquecido. Em razão de seus 70 anos de idade, recebeu pequenas homenagens, mas nada foi suficiente para tirá-lo do ostracismo em que vivia. Morreu de parada cardíaca aos 72 anos, deixando pra trás um legado genuinamente brasileiro e particularmente paulistano.


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