“Longe da pátria neste céu diverso, O sol aqui tanto não arde, Choro a saudade do meu lar amado Nas horas mortas do cair da tarde...”.
A estrofe acima faz parte de um dos vários poemas, entre outras correspondências, que Murilo Carlos de Oliveira enviou para a mãe no período em que esteve na Itália, na Segunda Guerra Mundial. O ex-combatente, nascido em Itu, interior de São Paulo, mas que passou grande parte de sua vida em Motuca, embarcou para o campo de batalha em 1944. No total, 25.334 efetivos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) uniram forças com os países aliados, formados principalmente por Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra, para lutar contra as nações do eixo, que incluía Alemanha, Itália e Japão. Os pracinhas voltaram para a casa em 1945, depois da vitória, com baixas de 465 mortos, além de 2.772 feridos.
Murilo ingressou no exército brasileiro por influência do pai, ex-comandante que também esteve na segunda guerra. Dedicado, alcançou postos importantes em pouco tempo de treinamento. Seus esforços levaram oficiais superiores a lhe direcionar constantes elogios. Quando foi para a guerra, aos 20 anos, já era 3º sargento. Ele lutou no batalhão de artilharia da FEB em várias cidades da Itália, utilizando metralhadoras e obuses auto-rebocados. Foram mais de 700 km percorridos, enfrentando, além dos inimigos, fome e temperaturas abaixo de zero. Em uma das investidas, foi atingindo por estilhaços de granada e teve que ser hospitalizado por causa dos ferimentos.
A maior sequela, no entanto, foi a chamada “neurose de guerra”, trauma que acomete alguns combatentes, decorrente dos trágicos acontecimentos observados por eles. Assim que retornou ao país, Murilo passou para a reserva remunerada e, em seguida, iniciou longo tratamento em hospitais do exército do Rio de Janeiro e de São Paulo. Neste período fazia esporádicas visitas aos familiares residentes em Motuca, para as quais precisava de autorização formalizada de seus superiores. Depois de vários anos, conseguiu na justiça o direito de receber promoção, em 1981, ao passar para a reforma do exército.
Com a alta no tratamento, no mesmo ano, Murilo retornou à Motuca, para morar com os familiares. Amante do futebol, o ex-combatente é considerado por muitos como um dos maiores jogadores da história da cidade. Numa ocasião, quando estava no exército, recebeu pena de detenção por faltar ao treinamento para jogar uma pelada. Em 2005, exatos 60 anos do fim da segunda guerra mundial, o ex-combatente faleceu em Motuca, aos 82 anos. Seu enterro foi realizado com honrarias militares e acompanhado por vários ex-combatentes. Atendendo a um de seus maiores desejos, Murilo foi enterrado com a farda que, por muitos anos, utilizou no exército brasileiro.
Fonte: Arquivo pessoal e depoimentos do sobrinho Nelson de Oliveira (Fininho).